Sofrimento Humano: uma visão da Terapia de Aceitação e Compromisso

“Não fuja da dor” – Em 2006, o psicólogo americano Steven C. Hayes publicou uma matéria na revista VEJA com esse título. No artigo, Hayes fala sobre sua jornada de luta contra a síndrome do pânico e como essa experiência moldou o desenvolvimento da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), que começava a se expandir nos Estados Unidos, Brasil e Europa. Dez anos após essa publicação, a ACT tem sido cada vez mais difundida, recomendada e validada para o tratamento de diversos transtornos psicológicos e comportamentais.

A ACT está fundamentada em um princípio extremamente simples: as pessoas sofrem. Não é que apenas sintam dor, o sofrimento é mais do que isso. As pessoas sofrem porque estão em uma luta constante com sua própria mente: seus pensamentos, sentimentos, emoções e sua própria história. Isso porque nossa mente evoluiu de forma a antecipar perigos, calcular riscos e resolver problemas de grande complexidade. Essa é uma habiidade exclusiva dos humanos e que nos permitiu fazer coisas maravilhosas como escrever, criar, fazer arte, política, construir cidades e continentes inteiros.

No entanto, essa mesma habilidade é uma faca de dois gumes. Também quer dizer que podemos nos preocupar excessivamente com algo, ressentir situações passadas, julgar nossas próprias ações como inadequadas e enfrentar perigos que somente existem em um futuro imaginário. Nossa mente rotula e classifica tudo: “Sou ansioso demais para ir àquela entrevista de emprego”; “sou uma pessoa ruim e machuco todos ao meu redor”; “sou incapaz de dar una boa vida aos meus filhos”; “sempre serei infeliz”, seja lá o que sua mente te diz todos os dias. E quando menos se espera, você esta preso. Preso em seu próprio sofrimento. Sua vida é cada vez mais sobre como controlar, gerenciar e evitar esses pensamentos e sentimentos indesejáveis e menos sobre como vivê-la, de maneira presente, pautada em valores e objetivos. Se estamos ressentindo o passado e com medo do futuro, como podemos estar presentes em nossa vida? O único lugar que você está é “aqui” e o unico momento é “agora”.

A ACT não é uma terapia sobre como se livrar ou controlar seu sofrimento. Ela é uma terapia sobre como mover-se do seu sofrimento para uma vida engajada e pautada em valores. É sobre viver o aqui-e-agora totalmente, com (e não apesar de) seus limites, seu passado, suas memórias, medos e tristeza. Ela parte do princípio de que o sofrimento é parte de nossas vidas e, ao mesmo tempo, somos seres de enorme coragem, compaixão e uma habilidade incrível de seguir em frente. É a partir dessa crença que a ACT apresenta uma maneira diferente de lidar com pensamentos e sentimentos: aceitá-los como são.

A aceitação não é uma postura passiva e derrotista (“eu sou assim mesmo e por isso não vou mudar”), mas sim uma maneira ativa de lidar com conteúdo psicológico. Ela parte do princípio de que tentar controlar ou se livrar da dor apenas a intensifica. Na aceitação, não há tentativa de controlar ou livrar-se de conteúdos negativos, apenas de lidar cim eles da maneira em que aparecem. Ela é cultivada  por meio da atenção plena (Mindfulness), uma técnica milenar praticada em várias formas de meditação no Oriente, que pode ser definida como uma maneira de observar nossas experiências com atenção, propositalmente e sem julgamentos.

A partir dessa visão, somos capazes de seguir de acordo com nossos valores mais profundos, não deixando que o sofrimento nos impeça de viver a vida que gostaríamos. Citando Steven Hayes, a ACT é sobre “Sair [do domínio de] nossa mente e entrar [engajar] em nossa vida”. Não fuja da dor.

Autor:

(Dainon E. Souza Machado CRP 08/18740)

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