"Coitada! Os moleques com esse nome que ela escolheu são terríveis". Já ouviu isso antes? Quando a criança é "difícil" surgem explicações e conselhos de todos os tipos: nome, mau olhado, temperamento, ansiedade, distúrbio mental, hiperatividade, obsessão espiritual; aí mandam benzer, medicar, castigar, etc. Sobram receitas, e tem cada uma! O que falta, muitas vezes, é um detalhe bem simples: observação e modificação das consequências geradas pelo comportamento “difícil” da criança. Esclarecendo, boa parte do nosso comportamento é instalado e mantido pelas consequências que produzem na interação com o ambiente. Assim, à grosso modo, quando um determinado comportamento dá certo a probabilidade dele voltar a ocorrer aumenta. Isso também vale para a birra. Vamos aos exemplos para entendermos como a criança aprende a ser birrenta e compreendermos o melhor caminho para que isso não aconteça.
Imagine o bebê acordando faminto e sozinho em seu quarto. Ele resmunga. Fica em pé e murmura. Lá de longe o familiar, cansado, resolve esperar pra ver se o nenê volta a dormir. A criança começa a chorar. Aos berros, vê alguém chegando cheio de mimos. O que o bebê aprende? Que o único comportamento que gera a consequência "atenção" é o de berrar. Na próxima, a probabilidade é que ele já acorde no volume máximo.
Noutro caso, a menininha chega ao mercado e pede aquele doce caro e prejudicial que o familiar não aceita comprar. No entanto, a menina traz do berço a sabedoria: persistir é o segredo da vida. Pede, repete, se descontrola, deita no chão, rola, começa a gritar. Quando a mãe percebe que até os produtos das prateleiras já estão olhando pra ela, desiste de ameaçar mil castigos e entrega o alimento que a criança "pediu". O que a menina aprendeu? Que no extremo do escândalo a mãe cede. Sucesso! Na próxima, não perde tempo, vai direto ao chão, quer dizer, ao ponto.
Consequências que aumentam a probabilidade de um comportamento voltar a acontecer são chamadas de reforçadoras. Muita gente sabe disso, isto é, se a criança conseguir o que quer fazendo birra, vai sempre ser birrenta. Mas as pessoas acreditam que se o comportamento tiver uma consequência ruim (punição) ele deixará de ocorrer. Grave engano. A bomba atômica impediu de haver guerra no mundo? Não! Criou uma corrida nuclear. A ressaca faz alguém parar de ingerir álcool? Só por um dia. O comportamento inadequado só deixa de existir quando não tem nenhuma consequência. Melhor ainda, o comportamento inadequado perde força quando o comportamento adequado é ensinado e reforçado. Somos especialistas em dar atenção ao comportamento "problema", ignorando o adequado - vide mídia. O que fazer, então?
Reforçar o comportamento desejado e de preferência um que seja incompatível com o comportamento inadequado. Por exemplo: no caso da menina do mercado, a mãe pode reforçar os comportamentos de pedir, de esperar, de falar em tom educado (comportamentos adequados) e ao chegar no mercado solicitar da filha ajuda para encher o carrinho de compras com os produtos (comportamento incompatível com o inadequado), oferecendo no final a gratificação/reforço (que não precisa ser, necessariamente, aquilo que a criança quer, mas aquilo que a mãe achar justo aplicar neste momento educativo). A birra nada mais é que um comportamento aprendido. Ensine, valorize e recompense o comportamento adequado: pedir educadamente, respeitar os limites, ter autocontrole, colaborar com os pais. E na dúvida, peça auxílio a um Psicólogo Analista do comportamento.
Autor: Psic. Maurício Mendonça Júnior (CRP: 08/14124) – Maringá/PR